Saudações!!!!!!
Há quanto tempo não escrevo aqui.
Estive em Três Marias desde o dia 15 de fevereiro e fiquei
por lá até o dia 5 de março. É isso mesmo, há mais de 15 dias!!!!! Lá encontrei pessoas muito boas que
ajudaram de diversas maneiras. Cheguei
na cidade depois de passar por um caminho muito bonito entre Abaeté (onde
passei o carnaval ouvindo funk nos milhares de carros de som que competiam quem
ouvia mais alto suas tranquilas musicas), Morada Nova de Minas onde acampei na
beira da represa, e Andrequicé, onde conheci a Casa de Manuelzão e me hospedei
em uma das casas mais antigas de lá, de propriedade da dona Olga, sobrinha de
Manuelzão. Aliás, descobri que nas imediações de Três Marias, caso se fale bem
de Manuelzão, quase todo mundo dá um jeito de achar um grau parentesco com ele. Nisso conheci um
monte de primo, sobrinho, amigo, chegado, conhecido e assim vai! Rsrs...
Passei primeiro final de semana e pude ver como a imensa
represa que leva o nome da cidade, é utilizada como área de lazer da população
local e dos turistas. O rio (depois da represa), também utilizado por turistas,
abriga em suas margens os pescadores e uma grande infraestrutura hoteleira para
aqueles que procuram principalmente a pesca. A facilidade do acesso através da
rodovia BR-040 que liga Belo Horizonte à Brasília, é mais um atrativo para os
pescadores de finais de semana.
Apesar de muito calor e de lugares belíssimos, o primeiro
sábado estava me incomodando em algo. Voltei da ''Praia do Povo'' e sentei em
um bar já na área central. Foi ali que as coisas começaram a mudar!!!!!!!
Lá na frente, na parte da rua que fazia uma grande sombra
projetada pelas casas da rua de cima, caminhava um casa. O rapaz vinha na
frente, a passos largos, porem lentos. A
mulher, um pouco atrás, não olhava para frente, e sim ao seu redor, na
tentativa de buscar o melhor enquadramento de tudo que passavam pela objetiva
de sua câmera fotográfica. Achei os dois muito curiosos.
Quando se aproximaram, pediram pra tirar foto do pessoal que
estava no bar e que visivelmente eram conhecidos. Ai então, que a mulher ao ver
minha bicicleta, buscou ao seu redor o
dono daquela bicicleta que, como muitos vem dizendo, “parece uma moto”.
- E esse menino aqui? Quem é você?
Fiquei desconcertado. Como assim, quem sou eu? Eu sou eu,
mas e dai???? Falei meu nome, mas não queria ficar falando a torto e a direito
que estava pedalando pelo São Francisco e blá, blá, blá... Respondo essa
pergunta umas 200 mil vezes por dia e, aquela hora estava tentando pensar o que
faria.
Mas, como criou um clima de expectativa, citei a ideia da
minha viagem e rapidamente fui interrompido por uma avalanche de dicas e
conselhos. Uma caderneta surgiu e logo virou uma lousa onde a lição estava
sendo passada. Me animei com o interesse
que ela passou pelo projeto e peguei meu
copo, minha cadeira e pulei a calçada para me sentar na rua, onde poderia
ouvi-lá melhor. Sobre o Rio São Francisco, esta moça conhecia tudo e todos.
Ficamos um bom tempo ali conversamos e marcamos de nos
encontrar no domingo para que eu pudesse descarregar o cartão de memória da
minha câmera, que já estava cheio.
- Mas e seu nome, qual é mesmo?- Eu perguntei.
- Me chamo Ceiça-Maria, e este é meu Edson.- Ela falou
apresentando seu companheiro.
No Domingo, depois de dar uma grande volta pela cidade, fui
até a casa de Ceiça. Comecei a descarregar o cartão de memória e, enquanto esse
lento processo caminhava, sentamos na calçada em frente sua casa para tomamos
aquela que viria a ser a grande companheira dos finais de tarde: uma cervejinha
pra refrescar. No meio do papo, um rapaz chega e pergunta da irmã de Ceiça, que
não estava. Então ele se apresenta e, ao que se revelar, trás uma lembrança de
30 anos, período em que morou em Três Marias numa pequena propriedade onde
desenvolviam técnicas agroecológias voltadas à realidade do cerrado mineiro.
Luiz, como se chama, tinha saído de Garopaba, em Santa
Catarina, e estava indo para Belém, no Pará, onde colocaria seu meio de
transporte (um Fiat 147, também conhecido como Malária) no barco até a cidade
que atualmente mora, Manaus-AM. Nossa, o primeiro viajante que eu encontrei.
Que satisfação!!!!! Sua viagem era pelos lugares por onde, algum dia passou, e
Três Marias era parte importante para ele.
Como eu era o novato ali na situação, afinal, Três Marias só
era nova pra mim, Luiz e Ceiça começaram a recordar o passado deles, fiquei
quieto e só escutava. As vezes, os dois competiam no tom de voz tentando
resgatar alguma passagem comum. A cada história, eu ficava mais deslumbrado.
Uma experiência Agroecológica muito interessante ocorreu aqui e os dois ali na
minha frente eram a memória disso tudo!!!!
Depois de muito tempo de conversa ali na porta da casa da
Ceiça, ela nos hospedou em uma casa desocupada. E essa foi minha durante 15
dias na marcante cidade de Três Marias-MG!
O Luiz foi meu melhor amigo por 3 dias.
Quando viajamos muito tempo sozinho, todo mundo que aparece,
a gente dá um jeito de contar alguma história, revela algo que normalmente não
se falaria a qualquer um. Mas pela primeira vez, nestes dias de viagem, tinha
em minha companhia por mais de algumas horas, alguém pra conversar e sair,
conhecer os lugares, fazer comida e até acordar e dar bom dia. Acordávamos e
logo pegávamos o Malária (como chama seu Fiat 147) para conhecer alguma
cachoeira, ou ir no lote onde um dia Luiz morou, e tinha o nome de Midifúndio.
Neste processo todo, o dia se resumia em acordar, ir pra
alguma cachoeira, estudar alguma coisa na biblioteca (muito simpática) e voltar
para a Embaixada Casa Verde, como a Ceiça denomina sua casa, para tomar algum
aperitivo e comer alguma coisa.
Através da Ceiça, conheci muita gente e muita coisa em Três
Marias, inclusive apresentei meu projeto para as crianças contadoras de
estórias de um projeto da prefeitura, coordenado pela Nuely e, no final de
semana fui numa cavalgada no povoado das Pedras, com Zé Antonio, que
gentilmente me levou até a igrejinha onde Manuelzão enterrou sua mãe e na Porto
do Rio de Janeiro, onde Guimarães narrou o primeiro encontro entre Riobaldo e
Diadorin. Também apresentei o meu projeto na Escola Estadual Guimarães Rosa,
que tem como diretora minha lindíssima amiga Fátima Elisa.
Já entrando na terceira semana de permanência na cidade e me
aproximando da data de comemoração do aniversário desta, dia 01 de março, todo
mundo falava pra eu ficar para a festa que aconteceria na praça. No início eu
falei que não podia, pois isso comprometeria a viagem. Até porque, paro nas
cidades por 1 ou 2 dias no máximo e ali, eu já estava há quase 15 dias. No final
não aguentei e fiquei na festa. A festa aliás, me surgiu como um oportunidade
de levantar um dinheiro para poder percorrer o trecho Três Marias até Pirapora
de barco, como o Seu Norberto, pescador de grande sabedoria e luta a favor do
Rio São Francisco e das comunidades de pescadores, além de grande contador de
estórias.
E esta decisão certamente foi muito agradável. Durante a
festa conheci muita gente e falei bastante sobre a viagem. Talvez uma das
maiores retribuições que tive, foi ver na expressão das pessoas, um desejo de
fazer alguma viagem destas depositado em mim. A cada km que passo e cada pessoa
que compartilho a viagem, vejo que a responsabilidade de viajar aumenta, pois a
quantidade de gente que me acompanha em pensamentos e cada vez maior. Isso
mesmo, borá pedalar!
Naquela noite do aniversário, virei a madrugada junto com a
programação da festa e de manha, fui direto para a feira do produtor rural,
onde teve uma feira e cavalgada seguida de apresentação de folia de reis. O
último final de semana na cidade foi incrível, marcado por um almoço com a
família da Hérika, com direito a um mini sarau protagonizado por sua mãe que
revelou uma imensidão de poemas de sua autoria.
Um grande abraço à todos de Três Marias que tove o
privilégio de conhecer!!!!! Um beijo
enorme especial para Ceiça-Maria!!!!! Valeu amiga!!!!